As partes da alma


           Uma das principais ideias de Platão diz respeito sobre a divisão da alma humana. Segundo ele, a alma humana estaria dividida em três partes diferentes, sendo elas: a parte racional, a parte irascível e a parte concupiscível. Essa tripartite é de grande importância para a ética platônica. Cada tipo de alma, em sua teoria política, deveria ocupar seu cargo respectivo na sociedade, com o intuito de formar uma comunidade perfeita da pólis, que levará o homem ao encontro com a felicidade. Podemos perceber isso em uma das falas de Sócrates: “Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tenha na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade.” Cada parte da alma possui suas funções próprias e únicas que não podem ser exercidas por nenhuma outra parte.

           A teoria das ideias de Platão está ligada essencialmente a sua outra teoria, a da alma. Em seu livro "República", na parte IV, Platão compreende o homem como sendo um ser composto por corpo e alma. Ao passo que o corpo modifica-se e envelhece ao longo do tempo, a alma é perdurável, ou seja, eterna. Segundo ele, um dia a alma foi livre do corpo e pode vivenciar o mundo das ideias, mas que por algum motivo esqueceu. Para se recordar de todas as experiências vividas, o homem precisa buscar o conhecimento e se recordar do que experimentou.

           Como mencionado anteriormente, Platão divide a alma em três partes. O lado racional da alma, o qual está localizado na cabeça, tem por objetivo controlar as outras duas partes da alma, com ele adquirimos o conhecimento e o discernimento. Nessa parte da alma, a razão predomina, sendo a característica principal dos filósofos e pensadores. Para Platão, seria também a característica dos governantes e legisladores, já que para ele, esses indivíduos poderiam governar de modo justo, a atender da melhor forma possível o interesse de grande parte da população, ou seja, é uma característica de quem atua na política. A parte irascível da alma, estaria localizada no coração, sua finalidade é fazer prevalecer os sentimentos e os impulsos de ira e cólera, a agressividade, a força e a coragem. Essas características, segundo Platão, seriam qualidades pertinentes de um soldado ou de alguém apto a qualquer serviço militar. Já o lado concupiscível, que está localizado no baixo-ventre e tem por objetivo satisfazer os desejos, paixões e instintos impulsivos. No modelo político ideal de Platão, essas características estariam ligadas a pessoas que realizam trabalhos manuais, como os artesãos.

            No Mito do Cocheiro, no diálogo “Fedro”, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a carruagem, e o cocheiro (Razão) conduz por meio das rédeas (pensamentos) os cavalos (sentimentos). Compete ao homem através de seus pensamentos saber guiar seus sentimentos, pois somente assim ele poderá seguir o caminho do bem e da verdade. Conforme Platão, não somos felizes quando dominados pela concupiscência e pela cólera, já que elas nos levam a maus caminhos, pois fazem com que os desejos e os impulsos violentos de nosso corpo tirem a nossa prudência. É muito angustiante uma pessoa que age por impulsos e é controlada pelas paixões. Para sermos felizes precisamos ter autocontrole. Ao controlar nossa concupiscência, estamos agindo com moderação, quando controlamos os nossos sentimentos usando a razão, estamos cada vez mais perto da felicidade. A moderação é uma grande qualidade, que acontece quando somos capazes de controlar a nossa concupiscência. O sujeito moderado é aquele que não cede às suas paixões, impulsos e prazeres, ou seja, age por intermédio da razão, onde consegue distinguir o que é bom e mal para sua vida, sabendo dominar a parte irascível da alma, ele consegue alcançar a felicidade.

           Por fim, para Platão, a ética tem o intuito de levar o homem a se voltar sempre para o bem, ou melhor dizendo, o ser humano deveria buscar aquilo que enriquece, engrandece a sua alma e abrir mão das coisas materiais, dos prazeres e de tudo aquilo que de alguma forma não é benéfico. Sendo assim, podemos concluir que, para Platão, o sujeito ético seria aquele capaz de governar a si mesmo, fazer escolhas sábias e tomar boas decisões, ou seja, é aquele que exerce a sua habilidade de autocontrole.


Analise de tirinhas


Tirinha do Armandinho:

Analisando a tirinha acima, podemos perceber o quanto Platão está certo quando descreve sobre a parte irascível da alma, que age por impulso e com ira, e como consequência comete erros. Isso fica claro na última frase, quando o garoto fala: “com raiva, a gente enxerga tudo errado!”



Tirinha do Armandinho:

Analisando essa outra tirinha que também retrata sobre a parte irascível da alma, compreendemos que a raiva é realmente perigosa, e principalmente nas redes sociais, onde muitos agem pelo calor do momento e condenam, cancelam e atacam diversas pessoas, deixando de ouvir a parte racional da alma e cometendo erros.



Link do podcast:

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Escrito por: Elber Souza


Referência:

PACHECO, Luiza Simões. A alma em Platão. 2018. 157 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

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